“A descoberta e o desenvolvimento de proteínas fluorescentes
coloridas que revolucionaram a Biologia renderam o Nobel de Química deste ano
[2008] a [...] Osamu Shimomura, Martin
Chalfie e Roger Tsien [...].
As proteínas fluorescentes são hoje uma das mais importantes
ferramentas para estudos em vários campos da Biologia. Por brilharem sob a luz
ultravioleta, elas permitem visualizar processos que antes não podiam ser
enxergados pelos cientistas, como o desenvolvimento de células nervosas, o
alastramento de tumores, a progressão do mal de Alzheimer no cérebro ou o
crescimento de bactérias patogênicas.
Hoje essas proteínas são usadas para a manipulação genética
de organismos vivos usados em pesquisas – de bactérias e protozoários a vermes
e até mamíferos como camundongos. Seu uso transcendeu, inclusive, a esfera da
ciência – o leitor talvez se lembre do coelho que brilha no escuro produzido
pelo artista plástico brasileiro Eduardo Kac.
‘A possibilidade de clonar uma proteína [junto] com
proteínas fluorescentes revolucionou a forma de estudar a expressão de genes’,
avalia a bióloga Andréa Macedo, pesquisadora da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), cujo grupo de pesquisa tem trabalhado com essas proteínas (ver
‘Parasitas fluorescentes’). ‘Antes disso, tínhamos dificuldade para monitorar a
expressão desses genes [a síntese de proteínas a partir do código genético].
Hoje é muito fácil: basta olhar ao microscópio, ou nem isso, no caso de animais
maiores’.
A pesquisa médica está entre as áreas beneficiadas por esse
desenvolvimento. ‘Muitas doenças são causadas pela falta ou pelo aumento da
expressão de certos genes’, lembra Macedo. ‘Ao estudá-los com proteínas
fluorescentes, fica possível entender quando, onde e como está ocorrendo sua
expressão.’
Água-viva pioneira
A primeira proteína fluorescente conhecida foi descoberta em
1962 por Osamu Shimomura, um dos laureados deste ano. Ele isolou a chamada GFP –
sigla em inglês para proteína fluorescente verde – estudando a água-viva Ae-quorea
victoria, que tem um órgão bioluminescente capaz de emitir um brilho verde
quando o animal é agitado. Já nos anos 1970, ele conseguiu desvendar o
mecanismo bioquímico que conferia essa propriedade à proteína.
Outro dos premiados deste ano, Martin Chalfie, começou a
trabalhar com a GFP no final dos anos 1980. Ao tomar conhecimento da existência
dessa proteína, ele intuiu que ela poderia ser um interessante marcador para
visualizar processos biológicos em organismos vivos. [...]
Para levar sua ideia a cabo, Chalfie identificou, com a
ajuda de outros pesquisadores, a localização do gene responsável pela síntese
da GFP no genoma da Aequorea victoria. O passo seguinte foi cloná-lo na
bactéria Es-cherichia coli, que passou a produzir o gene e a brilhar no escuro
quando iluminada por luz ultravioleta. [...]
Já a contribuição do terceiro laureado, Roger Tsien, foi
ampliar o espectro cromático das proteínas fluorescentes. Ao trocar alguns
aminoácidos na sequência da proteína GFP, ele conseguiu obter proteínas
fluorescentes capazes de absorver e emitir luz em várias partes do espectro –
ou seja, capazes de assumir diferentes cores.A vantagem de se usar proteínas
marcadas com cores diferentes é que, com isso, tornou- -se possível visualizar
as interações entre elas no organismo. [...]
Parasitas fluorescentes
[...] As proteínas fluorescentes são hoje usadas por
milhares de pesquisadores do mundo inteiro, inclusive no Brasil, para entender
os diversos processos biológicos. Um exemplo recente é o uso dessas proteínas
para entender a infecção pelo parasita Trypanosoma cruzi durante a doença de
Chagas.
O trabalho foi conduzido pela bióloga Simone Pires,
integrante do grupo de Andréa Macedo na UFMG [...]. A equipe obteve
tripanossomos geneticamente modificados para expressar as proteínas
fluorescentes verde e vermelha.
‘A ideia era acompanhar visualmente quais tecidos eram
infectados pelo parasita’, explica Macedo. ‘Há poucos parasitas no organismo
durante a fase crônica da doença, e é difícil encontrá-lo. Com o uso das
proteínas fluorescentes foi mais fácil visualizá-lo’. O trabalho ajudou a
elucidar vários aspectos da infecção pelo parasita, como os mecanismos de
invasão celular ou a troca genética entre diferentes tripanossomos.”
Fonte: ESTEVES, B. Ciência
Hoje On-line. Setembro, 2009. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br>.
Acesso em: 10 fev. 2010.
Você entendeu a leitura? Responda em seu caderno
1. Pesquise o que
são proteínas.
2. O texto mostra
uma forte influência da Química sobre a Biologia. Pesquise outro caso em que a
Química influenciou o avanço de outra disciplina.
3. Pesquise sobre o
“coelho que brilha no escuro” de Eduardo Kac. Escreva um artigo sobre o
trabalho desse artista.
4. Explique como as
proteínas fluorescentes ajudaram no trabalho da pesquisadora Simone Pires.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Expresse aqui seu comentário.