“Há mais de 2.500 anos, alguns filósofos gregos se
perguntavam se a imensa variedade do mundo que nos cerca não podia ser reduzida
a componentes mais simples. A própria palavra átomo vem daquele tempo e
significa ‘indivisível’. A última fração da matéria, segundo esses filósofos o
‘tijolo’ fundamental de tudo o que existe, não pode-ria mais ser dividida em
outras partes mais simples. Podemos fazer uma comparação elementar, apenas para
fins didáticos. Em uma padaria, você encontra uma grande variedade de pães,
bolos, biscoitos, tortas, todos produzidos a partir de um pequeno número de
ingredientes: farinha, fermento, manteiga, óleo, açúcar, chocolate etc. Muitas vezes,
os ingredientes de pães diferentes são os mesmos, apenas mudam suas quanti-dades
relativas e a forma de preparação. Da mesma maneira, quando olhamos o mundo à
nossa volta, vemos uma variedade incrível de seres vivos e objetos inanimados,
de um grão de areia à galáxia, de um vírus a uma baleia. Quantos tipos de
‘ingredientes’ diferentes são necessários para produzir esse mundo? [...]
Os átomos são formados por um núcleo positivo, onde reside
praticamente toda sua massa, e por elétrons, negativos, que circulam em torno
do núcleo. Sabemos, também, que ocorrem naturalmente no universo apenas noventa
e dois tipos de átomos diferen-tes. Esses tipos podem ser classificados pelo
número de prótons [...] contidos em seus núcleos. Sabemos ainda que esses
átomos podem não ser o fim da história, pois pode haver no universo partículas
ou alguma forma de energia ainda não descobertas — ou pode ser que nossas
teorias sobre o universo precisem algum dia ser revisadas, se esses novos
‘ingredientes’ não forem encontrados. Tudo isto é parte do mundo fascinante da pesquisa
científica — cada pergunta respondida leva a novas perguntas. Em Ciência, as
respostas raramente são definitivas, mas as perguntas perduram. [...]
O problema é que átomos são muito pequenos, medem menos de
um centésimo de bilionésimo de metro, e obedecem a leis físicas bastante
diferentes daquelas com as quais estamos acostumados no nosso mundo familiar. O
seu tamanho é tal que não podem ser vistos diretamente. Instrumentos especiais
tiveram de ser desenvolvidos antes que fosse possível ‘ver’ um átomo. Um dos
mais práticos desses instrumentos, o microscópio de tunelamento, somente foi
inventado na década de 1980. Seus inventores [...] ganharam o prêmio Nobel por
seus trabalhos. O funcionamento desse microscópio depende das leis da mecânica
quântica, que governam o comportamento dos átomos e moléculas. Portanto, a existência
de átomos e as leis da natureza no mundo atômico tiveram de ser pacientemente descobertas
a partir de experimentos especialmente concebidos. Esse processo levou décadas
e envolveu grandes cientistas.
Instrumentos como o microscópio de tunelamento e outros
estendem nossa ‘visão’ até tamanhos na faixa de bilionésimo de metro. Um
bilionésimo de metro chama-se ‘nanômetro’, da mesma forma que um milésimo de
metro chama-se ‘milímetro’. ‘Nano’ é um prefixo que vem do grego antigo (ainda
os gregos!) e significa ‘anão’. [...]
Ainda antes dos cientistas desenvolverem instrumentos para
ver e manipular átomos individuais, alguns pioneiros mais ousados se colocavam
a pergunta: o que aconteceria se pudéssemos construir novos materiais, átomo a
átomo, manipulando diretamente os tijolos básicos da matéria? Um desses
pioneiros foi um dos maiores físicos do século XX: Richard Feynman. [...]
A ideia de Feynman é que não precisamos aceitar os materiais
com que a natureza nos provê como os únicos possíveis no universo. Da mesma
maneira que a humanidade aprendeu a manipular o barro para dele fazer tijolos e
com esses construir casas, seria possível, segundo ele, manipular diretamente
os átomos e, a partir deles, construir novos materiais que não ocorrem
naturalmente. [...] Hoje, qualquer toca-disco de CDs é uma prova da verdade do
que Feynman dizia. Os materiais empregados na construção dos lasers desses toca-discos não ocorrem naturalmente,
mas são fabricados pelo homem, camada atômica sobre camada atômica.
O objetivo da nanotecnologia, seguindo a proposta de
Feynman, é o de criar novos materiais e desenvolver novos produtos e processos
baseados na crescente capacidade da tecnologia moderna de ver e manipular
átomos e moléculas. [...] O objetivo da nanotecnologia, seguindo a proposta de
Feynman, é o de criar novos materiais e desenvolver novos produtos e processos
baseados na crescente capacidade da tecnologia moderna de ver e manipular
átomos e moléculas. [...]
Nanotecnologia não é uma tecnologia específica, mas todo um conjunto de técnicas, baseadas na Física, na Química, na Biologia, na Ciência e Engenharia de Materiais, e na Computação, que visam estender a capacidade humana de manipular a matéria até os limites do átomo. As aplicações possíveis incluem: aumentar espetacularmente a capacidade de armazenamento e processamento de dados dos computadores; criar novos mecanismos para entrega de medicamentos, mais seguros e menos prejudiciais ao paciente dos que os disponíveis hoje; criar materiais mais leves e mais resistentes do que metais e plásticos, para prédios, automóveis, aviões; e muito mais inovações em desenvolvimento ou que ainda não foram sequer imaginadas. Economia de energia, proteção ao meio ambiente, menor uso de matérias-primas escassas são possibilidades muito concretas de desenvolvimento em nanotecnologia que estão ocorrendo hoje e podem ser antevistos.
No Brasil, a nanotecnologia ainda está começando. Mas já há
resultados importantes. Por exemplo, um grupo de pesquisadores da Embrapa,
liderados pelo Dr. L. H. Mattoso, desenvolveu uma ‘língua eletrônica’, um
dispositivo que combina sensores químicos de espessura nanométrica, com um
sofisticado programa de computador para detectar sabores. A língua eletrônica
da Embrapa, que ganhou prêmios e está patenteada, é mais sensível do que a
própria língua humana. [...]
Aplicações [...] na Química e na Petroquímica, em entrega de
medicamentos, em sensores, em materiais magnéticos, em computação quântica, são
alguns exemplos da nanotecnologia sendo desenvolvida no Brasil. O que
precisamos agora é aprender a transformar todo esse conhecimento em riquezas
para o país.”
Você entendeu a leitura? Responda em seu caderno
2. Reescreva o
trecho do texto em que o autor aponta o caráter mutável da Ciência. Você concorda
com essa afirmação? Explique.
3. Escreva no seu caderno os valores numéricos
correspondentes a:
a) Um centésimo de
metro.
b) Um milésimo de
metro.
c) Um bilionésimo de
metro.
d) Um centésimo de
bilionésimo de metro.
4. Além das citadas
no texto, existem outras aplicações para a nanotecnologia. Pesquise algumas
aplicações e, trabalhando em grupo, faça uma pequena apresentação para seus colegas
de sala.
5. Faça uma pesquisa sobre o trabalho desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): Guterres, Sílvia Stanisçuaski; Alves, Marta Palma; Pohlmann, Adriana Raffin sobre nanopartículas poliméricas, nanoesferas e nanocápsulas para aplicações cutâneas.Discuta com seus colegas de classe sobre os benefícios dessa pesquisa na área médica.
Fonte: SILVA,C.G.Com Ciência.n.37,novembro,2002.Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/nanotecnologia/nano10.htm>.Acessoem:9
fev. 2010.
Fonte: Peruzzo, Francisco Miragaia Química na abordagem do cotidiano /
FranciscoMiragaia Peruzzo, Eduardo Leite do Canto. — 4. ed. — São Paulo :
Moderna, 2006.
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